Há alguns anos, meus olhos brilharam quando assisti Ford vs. Ferrari (2019) pela primeira vez. Embora não seja muito fã de corridas, o filme me conquistou: um de seus maiores êxitos foi adotar assuntos universais por baixo de sua máscara esportiva. No entanto, F1: O Filme (2025), outro longa de corrida, acaba indo por um caminho oposto. Na cena de abertura, vemos o personagem de Brad Pitt em uma das cenas mais típicas desse gênero: ele acorda e treina ao som de um rock da época dos nossos pais. Logo, você percebe que ele se encaixa naquele arquétipo de homem solitário com um passado triste. Nesse mesmo momento, você entende para quem é esse filme: todos os homens brancos e héteros que, embora também sejam um tanto fracassados, acreditam que são heróis no final das contas. Porém, para um filme que tenta se conectar com seu público, essa é uma obra bastante fria.
No filme, Sonny Hayes (Brad Pitt) já foi um prodígio da Fórmula 1, mas um acidente no início dos anos 1990 encerrou sua carreira e o deixou preso a uma vida de frustrações, vícios e corridas menores. Décadas depois, um antigo colega de corrida, Ruben (Javier Bardem), aparece com uma proposta inesperada para Hayes: retornar ao mundial pela equipe APXGP, uma escuderia em crise que jamais somou um ponto sequer. Logo no primeiro teste, Sonny mostra que ainda tem talento, superando o tempo do jovem e ambicioso Joshua Pearce (Damson Idris), companheiro de equipe e, agora, rival declarado. Instaura-se entre os dois uma disputa de egos, estratégias e personalidades: de um lado, a experiência cansada e pragmática, do outro, a fome por fama e reconhecimento. À medida que a temporada avança, a pressão sobre a equipe cresce, alimentada por acidentes e tensões internas.
O eixo principal do filme é o conflito entre Sonny e Joshua. Em suma, ambos são chatos: enquanto Joshua é xarope porque tenta demais ser alguém com personalidade, Sonny é insosso porque tenta fingir que não se importa com nada. Entre eles, Sonny, nosso protagonista, é mais tolerável. O personagem de Pitt é, ao menos, gentil e mais consciente, o que acaba sendo o motivo para as pessoas gostarem dele — mas ainda assim não me convence tanto. Também, ele é bastante inteligente e não corre por dinheiro, o que o coloca em uma posição de “sábio incontestável”. O que acho mais interessante sobre Sonny é que ele é mais gostável como piloto do que como pessoa: quando ele começa a correr, você torce a favor dele, mesmo contra seu parceiro de equipe. Em outras palavras, Sonny tem mais charme na pista — justamente quando ele está mais calado — do que fora dela.
Se Sonny tem como inspiração a corrida e a euforia da pista, Joshua é mais raso. O rapaz — jovem e inexperiente, apesar de bom piloto — é mais focado no lado midiático da profissão: dinheiro, fama, seguidores e mulheres. No entanto, isso não impede que ele seja um babaca: além de lançar comentários ofensivos contra Sonny gratuitamente desde o início, ele tem um comportamento nocivo em relação à sua própria equipe. Em uma cena do começo, Joshua esbarra em Jodie (Callie Cooke), que trabalha na equipe, e faz parecer que foi ela quem esbarrou nele. Um pouco mais tarde, quando Jodie deixa a parafusadeira cair no chão, sob o pneu durante uma parada no pit stop, Joshua não mede palavras contra ela. O problema, no entanto, é que não existe motivo para esse comportamento dele, ele só é insuportável e estúpido. Na verdade, pode-se dizer que ele herdou isso da mãe, Bernadette (Sarah Niles).
Por um lado, F1 é um filme que causa apreensão, especialmente nas cenas de corrida. Também, quando as coisas começam a dar certo para a equipe, a satisfação é grande. Os acidentes causam choque, enquanto há uma boa dose de euforia. No entanto, dizer que o filme é humano ou sentimental seria um erro. Isso acontece porque existe um grau alto de perfeição visual, típico do Apple Studios, que causa mais estranheza do que impressiona: uma cena do começo mostra a equipe em uma garagem toda branca, o que é uma tentativa de criar algo futurista, mas só é esquisito. Claro que existem filmagens incríveis, mas há vários momentos que são artificiais. Enquanto alguns planos de dentro do carro falham ao tentar construir uma claustrofobia, outros são mais documentais do que cinematográficos. Com isso, o visual varia entre muita emoção e uma certa desumanização do próprio filme.
Conforme o filme caminha, você começa a gostar um pouco mais de Sonny. Quanto a Joshua, ele ganha uma história de redenção quando compreende melhor o lugar do colega de equipe e até começa a replicar seus hábitos. Mas, para ser sincero, isso está longe de ser tão vendável quanto a obra faz parecer. Em paralelo, há uma lista de ideias jogadas: preconceito pela idade de Sonny, combate entre tradição e tecnologia e até um vilão, Peter (Tobias Menzies), que sabota a equipe da APXGP. No entanto, todos esses tópicos são vomitados, sem a profundidade que merecem — tudo fica apenas na teoria. Claro que, no final, estamos falando de uma história para homens brancos — afinal, somente eles transformariam corridas em um traço de personalidade. Isso não impede que F1 seja um filme divertido, mas o que penso: será que ele é emocionante mais pelo esporte do que por si próprio?
(Nota: Este texto foi publicado originalmente no site Cinemanorama e, desde setembro de 2025, encontra-se também disponível no site Suborno.)