Robert Michaels escreveu uma vez que: “Tudo é sexo. Exceto sexo, que é poder”. Nisso, Michaels sugere que relações e negócios são, até certo ponto, impulsionados por um desejo pessoal profundo de aumentar a viabilidade sexual e, assim, alcançar maior sucesso nas interações com outros indivíduos. No contexto sexual, o prazer e o ato em si estão ligados à troca de poder. Em outras palavras, quase sempre há um jogo de dominação e submissão no sexo: pode-se dizer que, muitas das vezes que buscamos sexo e o encontramos, ele se torna uma dinâmica de comandar e obedecer. O terceiro longa-metragem da diretora holandesa Halina Reijn sustenta-se nessa máxima. O produto é excitante e catártico, ainda que demore um pouco para encontrar seu caminho.
No thriller erótico, Romy (Nicole Kidman) é uma executiva que ascendeu à posição de CEO por meio de sua dedicação. Sua vida pessoal segue um caminho semelhante, com um casamento sólido com Jacob (Antonio Banderas) e uma família aparentemente perfeita. No entanto, a estabilidade de sua vida começa a desmoronar quando ela se envolve em um tórrido e proibido caso com seu estagiário Samuel (Harris Dickinson). Conforme a relação clandestina se desenrola, Romy se vê em uma corda bamba, precisando equilibrar suas responsabilidades profissionais e familiares com as complexas dinâmicas de poder e sexo que surgem em suas interações. Dessa forma, cada novo passo dela é pautado por uma linha tênue entre o desejo, a ambição e a moralidade.
Babygirl pode ser dividido em duas partes: na primeira, há um trabalho que quase cai em uma banalização idealista, enquanto na segunda, há uma obra que parece mais confiante de sua história e propósito. Dito isso, em um primeiro momento, Babygirl quase se aproxima de Cinquenta Tons de Cinza (2015) por sua simplificação e crença em um desenrolar Deus Ex Machina. Olhe, por exemplo, para a sequência em que Romy avista Samuel em uma multidão controlando um cachorro agressivo e, em seguida, descobre que ele é seu novo estagiário. Mais tarde, ele insiste que ela seja sua mentora. Ela diz que não faz parte do programa de tutoria, mas logo descobre que foi colocada sem autorização pelo conselho da empresa. Apesar das conotações, o encadeamento é barato e previsível — em outras palavras, isso poderia facilmente estar em uma fanfic.
Para mais, grande parte da primeira metade do filme parece mais alinhada com ideias sobre sexualidade, vícios e fetiches do que com esses elementos em essência. O grande dilema de Romy é sua frustração sexual com seu marido, resultando em um vício em pornografia — depois de cada transa, ela precisa se masturbar assistindo pornô para atingir um orgasmo. Por consequência, seus desejos sexuais são mais intensos. Porém, por mais honesta que seja sua complexidade, ela é tratada, em um primeiro instante, de maneira quase inconsequente e superficial. Da mesma forma, no começo, os fetiches que Romy e Samuel desenvolvem parecem se resumir à mera presença deles e não tanto à sua função representativa. Em outras palavras, são encenações desajeitadas que parecem existir apenas com uma função alusiva e não tanto funcional.
Felizmente, existe um ponto em que Babygirl consegue encontrar seu caminho para merecer um título de thriller erótico bastante eficaz. No primeiro encontro clandestino de Romy e Samuel, em um quarto de hotel, os dois parecem um pouco sem jeito — ela ainda não tem noção plena de que gosta de uma certa submissão, enquanto ele parece não saber direito tomar as rédeas da situação. Entretanto, após um (quase) conflito familiar, os dois se sentam para conversar e estabelecem regras — no melhor estilo Cinquenta Tons. Em seguida, penso que o filme melhora muito: os fetiches parecem mais humanizados e significativos, enquanto ambos os personagens ganham uma dimensão maior. Com isso, Samuel deixa de ser apenas um menino desajeitado tentando parecer um homem de garras, enquanto Romy consegue transparecer que seus vícios vão além de uma insatisfação sexual.
Enquanto Babygirl evolui de uma história repetida e tímida para algo mais bem canalizado, sua direção também amadurece. No começo, sinto que Reijn não sabe equilibrar o lado sensual com a “criminalidade moral”. Com isso, cenas de suspense parecem se moldar de forma artificial a um clima sexual, enquanto momentos que deveriam ser excitantes acabam sendo anticlimáticos. No caso, a cena em que Samuel manda uma bebida de leite para Romy beber e ela obedece tem uma ótima intenção simbólica, mas a execução parece desjeitosa. Porém, penso que o grande agente de construção de tentação acaba sendo Samuel. Digo isso não por sua face dominadora, mas pela sensação de ele ser um jovem que faz com que Romy sinta-se jovem. Nisso, Babygirl não é sobre a atração por um terceiro, mas sim sobre o que você faria para se sentir atraída por si própria.
Por mais que Babygirl, em essência, seja uma história relativamente batida, ele busca dar uma nova abordagem à inversão de papéis etários nos relacionamentos clandestinos. No entanto, o maior vilão acaba sendo o tempo: Halina poderia ter optado por um desenrolar mais lento, apostando em cenas mais longas de excitação — não tanto sexo, mas provocação. Também, penso que grande parte dos problemas da primeira fase vêm da falta de espaço para um desenvolvimento mais calmo e com respiro. No final, tem bastante coisa boa, mas o caminho até lá não é tão chamativo.
(Nota: Este texto foi publicado originalmente no site Cinemanorama e, desde setembro de 2025, encontra-se também disponível no site Suborno.)