Premonição 6: Laços de Sangue

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Ano — 2025

O filme mais sofisticado da emblemática série de terror é um retorno glorioso: embora as mortes sanguinárias não sejam tão memoráveis, elas ainda sustentam a reputação do filme como um ótimo exemplar de gore.

Antes de ser um filme de terror, Premonição (2000) é uma espécie de comédia. Essa afirmação parte da mesma lógica das animações, tais como Papa-Léguas: as supostas mortes do Coiote, por mais exageradas e violentas que sejam, são engraçadas. No caso, isso acontece porque o cérebro identifica o padrão absurdista dos acontecimentos que levam à fatalidade e, em um processo de mecanismo de enfrentamento, categoriza esse padrão como ridículo para evitar o anseio da morte. Em outras palavras, você ri do Coiote sendo atingido por uma bigorna na cabeça, porque, afinal, quais as chances de aquilo acontecer com você? Nesse mesmo sentido, as mortes da série de filmes Premonição também despertam uma resposta cômica. Sendo mais um grande híbrido, o novo longa da emblemática franquia de terror é um retorno glorioso: o mais sofisticado até agora.

O filme — o primeiro da série após uma pausa de quatorze anos — segue Stefanie (Kaitlyn Santa Juana), uma jovem que passou a ter pesadelos com sua avó, Iris (Gabrielle Rose), em um acidente sangrento: durante um encontro na abertura de uma nova torre, Iris e todas as pessoas presentes morrem brutalmente quando a estrutura desmorona. Atormentada e focada em entender o significado dessas visões, Stefanie volta para a cidade onde cresceu para tentar encontrar a única pessoa capaz de quebrar o ciclo fatal: sua avó Iris, que vive de forma isolada da sociedade. No acampamento, Iris revela que teve uma premonição do acidente e conseguiu salvar todos, mas isso criou uma dívida com a morte: todos que deveriam ter falecido naquele dia devem morrer de qualquer forma, inclusive seus descendentes. Isso coloca Stefanie como uma das próximas na fila da morte. 

Premonição 6: Laços de Sangue é um retorno glorioso: esse é o filme mais sofisticado da franquia, ao passo que dá continuidade a todas as características que consolidaram os filmes da série. Na verdade, “sofisticado” é a palavra que melhor define essa obra: indo além dos acidentes elaborados e mortes violentas, esse novo capítulo é o primeiro que me parece preocupado com um desenvolvimento mais tradicional. Quando colocamos o enredo de Laços de Sangue ao lado dos outros filmes, fica claro que existe uma profundidade que denuncia uma certa criatividade e solidez. No caso da história, a capacidade de ter visões é uma herança amaldiçoada que passa de avó para mãe e, depois, para filha. No meio-tempo, os problemas de família se desenrolam como uma novela. Com isso, Laços de Sangue entrega boas doses de violência gráfica, mas vai além de um torture porn focado em gore.

Com isso em mente, Laços de Sangue também se mostra primoroso em outros quesitos: construção de suspense, criatividade na concepção das mortes e imprevisibilidade da fatalidade. No caso do primeiro, vamos olhar para o acidente inicial. Na cena, Iris e seu noivo, Paul (Max Lloyd-Jones), visitam um restaurante que fica no topo de uma grande torre. Naquele dia, era a abertura do estabelecimento e uma festa acontecia, com muita dança e música animando os convidados. Após um pedido de casamento, Iris e Paul vão para a pista de dança celebrar e o pior acontece: o piso de vidro se quebra e várias pessoas caem, enquanto um vazamento de gás incendeia metade dos convidados. Depois, no desespero da fuga, o elevador despenca devido ao excesso de peso, levando todos que estavam dentro, e, logo depois, o topo da torre despenca e o restante das pessoas é morto. 

Uma das melhores mudanças em relação aos outros filmes em Laços de Sangue é a denúncia do perigo na construção do suspense. Enquanto nos outros filmes, os acidentes ocorriam em ambientes em que tragédias pareciam menos prováveis, aqui o suspense está presente desde os primeiros momentos. Claro que aviões podem cair e montanhas russas podem descarrilar, mas o medo de altura é mais palatável. Nesse sentido, o suspense na abertura de Laços de Sangue é presente desde o começo: o rádio toca uma música que fala sobre chamas e quedas, enquanto os sons das engrenagens do elevador já soam como uma catástrofe anunciada. Em paralelo, a claustrofobia e o medo de altura de Iris (Brec Bassinger) apenas acentuam a construção lenta até o acidente. O resultado é um sentimento de ansiedade e expectativa, no meio de um breve jogo melodramático que busca a conexão emocional. 

Conforme o filme avança, as coisas conseguem se manter bem sólidas. Stefanie, em sua visita à sua avó, descobre os esquemas da morte e também que sua avó salvou todas as pessoas no dia do acidente, o que a levou a se manter longe da sociedade para proteger sua família. Assustada, Stefanie foge, levando Iris a sair de sua cabana. Quase instantaneamente, Iris é morta por um pedaço de ferro que atravessa seu crânio. Depois disso, Stefanie fica perturbada com a história, mas só decide investir seu tempo depois que seu tio Howard (Alex Zahara) tem sua cabeça moída por um cortador de grama em um churrasco. Em uma reunião nos dias seguintes, Stefanie apresenta sua descoberta: a morte está atrás de todos que deveriam ter falecido no acidente, incluindo seus descendentes. Porém, para os filhos serem atingidos, os pais precisam morrer primeiro.

Voltando ao assunto das mortes, confesso que tenho sentimentos conflitantes: penso que elas são, de fato, criativas, mas nem sempre memoráveis. Além dessas duas que comentei, gostaria de destacar a morte de Erik (Richard Harmon). No caso, ele é o filho bastardo de Howard e, por isso, não está na lista da morte. Porém, quando ele tenta ajudar seu irmão a quebrar o ciclo — seu plano era matar e depois ressuscitar Bobby (Owen Patrick Joyner) —, ele se torna um alvo também. Nisso, em uma sala de hospital, uma máquina de ressonância magnética é acionada e cria um campo de força. Primeiro, Erik é puxado pelos seus piercings no nariz, mamilos e pênis, mas depois uma cadeira de rodas dobra seu corpo para dentro do aparelho de ressonância. Essa morte é brutal e agonizante, mas quando Bobby morre, logo em seguida, com uma mola cravada na testa, o evento passa batido. 

Com isso em mente, mesmo com algumas mortes não memoráveis, Laços de Sangue continua entregando um gore de qualidade. É verdade que há alguns deslizes, mas há mais acertos do que erros. O que mais me decepcionou foi o final: depois da morte de sua mãe, Stefanie e seu irmão, Charlie (Teo Briones), são esmagados por troncos de árvores durante o descarrilamento de um trem. Entendo a clara ligação com Premonição 2 (2003), mas isso me soou mais como um encerramento apressado do que como algo bem feito. Ademais, o uso exagerado de efeitos especiais tira um pouco do brilho das coisas, mas em Laços de Sangue há um avanço claro em relação aos efeitos das partes quatro e cinco da franquia. No final, assim como qualquer filme de terror com foco em atração visual, há problemas, mas essa me parece uma forte homenagem e redenção para uma série emblemática do cinema. 

(Nota: Este texto foi publicado originalmente no site Cinemanorama e, desde setembro de 2025, encontra-se também disponível no site Suborno.)

Premonição 6: Laços de Sangue

Título Original: Final Destination: Bloodlines

Lançamento: 2025

Duração: 110 mins.

Gênero(s):

Classificação: 18

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