Eu Sei O Que Vocês Fizeram no Verão Passado

Direção —

Gêneros —

Ano — 2025

Embora o novo filme tente atualizar o clássico da década de 1990, ele perde o charme, a tensão e o carisma que tornaram o original minimamente interessante. Jennifer Kaytin Robinson entrega um filme sem personalidade, com humor deslocado e nostalgia mal aproveitada.

Embora Eu Sei O Que Vocês Fizeram no Verão Passado (1997) tenha sido um filme realizado na sombra do sucesso de Pânico (1996), essa é uma cópia que ainda guarda algum mérito. Recentemente, revendo o filme original, o que mais me chamou a atenção foi como o filme de Jim Gillespie se fundamenta na decadência dos personagens. Nesse sentido, existe um desenvolvimento razoável das peças do jogo, mas o que acaba sendo mais interessante é justamente a “destruição desse desenvolvimento” como elemento catalisador da vingança. Claro que, apesar disso e de alguns elementos emblemáticos que cristalizaram essa produção na história do terror norte-americano contemporâneo, o filme de Gillespie ainda é uma cópia do de Wes Craven. O novo filme da série, porém, consegue perder todos os pontos positivos do primeiro, mas mantém tudo de ruim que havia antes.

O filme, assinado por Jennifer Kaytin Robinson, se passa vinte e sete anos após o primeiro. Nessa nova parte, décadas após o trágico acidente encoberto por um grupo de jovens em Southport, Ava (Chase Sui Wonders) retorna à cidade natal para o chá de panela da melhor amiga, Danica (Madelyn Cline). O reencontro entre antigos amigos — incluindo o ex-namorado de Ava, Milo (Jonah Hauer-King), a deslocada Stevie (Sarah Pidgeon) e Teddy (Tyriq Withers) — logo se transforma em pesadelo quando mensagens anônimas ameaçadoras começam a surgir, insinuando que alguém sabe o que aconteceu na noite do acidente. Enquanto a cidade tenta manter as aparências para não espantar turistas, mortes brutais cometidas por um assassino que empunha um gancho reacendem as lembranças dos crimes do lendário pescador Ben Willis, que aterrorizou Southport na década de noventa. 

Se o primeiro filme tinha seus personagens a seu favor na batalha para não ser apenas mais um filme de terror, esse novo Eu Sei O Que Vocês Fizeram no Verão Passado tem esses mesmos elementos contra si. Claro que, nos anos 1990, o grupo de amigos de Southport era formado por pessoas estereotipadas, senão genéricas. No entanto, de alguma forma, elas eram uma cristalização funcional daquela época. Na leitura de Robinson, isso desaparece, e os personagens carecem de qualquer traço de personalidade: todos eles são chatos, o que faz com que você, simplesmente, não ligue para eles. Nesse esquema, também, as dinâmicas são baratas: enquanto no primeiro havia enfrentamentos entre os amigos, aqui, os principais problemas são uma (quase) crise de ciúmes de Ava com as amigas Danica e Stevie. Falando em Ava: enquanto Julie, no primeiro filme, enfrentava uma crise de depressão severa, neste novo, nossa heroína justiceira e final girl compensa seu tormento com… sexo lésbico no banheiro do aeroporto? 

O problema dos personagens, no entanto, vai além da falta de carisma e impacta, principalmente, no clima do filme. Logo de cara, tive bastante incômodo com o fato de os personagens serem mais velhos. Isso fez com que eles perdessem certa “inocência” do primeiro filme. Foi essa credulidade que os levou a esconder os crimes, afinal, eles tinham uma vida na universidade pela frente. Nesse novo filme, os personagens carecem desses elementos, o que, por si só, também quebra toda a premissa da obra: por que eles precisam esconder o assassinato e não têm nada a perder? Claro que podemos pensar que, talvez, eles sejam mau-caráter. Além disso, o próprio acidente de carro me parece menos culposo que o evento do primeiro filme. Dessa vez, um dos amigos está no meio da rua, o que faz com que um carro perca o controle e caia do penhasco. É verdade que eles têm culpa, mas me parece menos grave que um atropelamento por não estarem prestando atenção na rodovia — como no primeiro filme.

Nesse sentido, Eu Sei O Que Vocês Fizeram no Verão Passado é um filme bastante sem graça. Jennifer Kaytin Robinson, que teve poucos trabalhos genuinamente relevantes, parece-me focar bastante em tentar solidificar seu filme ao se apoiar fortemente na versão original. No caso, além da abertura ser bastante parecida, chamou-me a atenção a presença de canções pop e rock na mesma dosagem do original. No entanto, essa inspiração no filme anterior nem sempre funciona. Por algum motivo, há a aparição dos personagens sobreviventes do primeiro filme, Ray (Freddie Prinze Jr.) e Julie (Jennifer Love Hewitt). O curioso é que o arco desses personagens antigos não tem justificativa. Logo, você pode afirmar que eles aparecem apenas por nostalgia. Porém, nem isso pode ser dito, visto que Ray e Julie são pouco aproveitados. Nesse sentido, tudo isso me soa como uma tentativa apelativa de resgatar uma memória — mas o filme falha nisso. Claro que Ray está envolvido nos assassinatos, mas me pergunto: precisava ser logo ele, que também havia sido uma vítima?

Eu Sei O Que Vocês Fizeram no Verão Passado é um filme mal calculado em todos os seus sentidos. Enquanto seu humor é mal posicionado e acaba quebrando os poucos momentos de suspense, os diálogos são dolorosamente vergonhosos. Minha impressão sobre tudo isso remete, novamente, à franquia de Pânico, reanimada após quase dez anos sem novas sequências. Nesse sentido, esse novo Eu Sei O Que Vocês Fizeram no Verão Passado, assim como o original, parece surgir nas sombras do seu irmão mais bem-sucedido e solidificado — no caso, Pânico 5 (2022) e Pânico 6 (2023). Claro que existem alguns pontos em que o filme de Robinson se sobressai — principalmente no que se refere à violência —, mas esses não são suficientes para justificar a produção e sua existência. No final, o filme é igual ao meu último verão: sem emoção e fedendo a suor. 

Eu Sei O Que Vocês Fizeram no Verão Passado

Título Original: I Know What You Did Last Summer

Lançamento: 2025

Duração: 110 mins.

Gênero(s):

Classificação: 16

MAIS CRÍTICAS

2025

Frankenstein (2025) equilibra o melodrama e a tragédia, explorando os excessos e os traumas que definem seus personagens.

2025

Bom Menino (2025) aposta em consolidar uma nova vertente de filmes de terror. Embora seja feito inventivamente, o resultado ainda é mais triste do que assustador.

2025

Divertido e cheio de referências à cultura da virada do milênio, Don’t Trip (2025) tropeça na falta de ousadia e no excesso de elementos narrativos, o que acaba tornando a história, em certos momentos, confusa.

2025

Fun and packed with turn-of-the-millennium cultural references, Don’t Trip (2025) stumbles over its lack of boldness and its overload of narrative elements, which ends up making the story feel confusing at times.