Superman

Direção —

Ano — 2025

Superman (2025) resgata a dimensão política esquecida do herói, combinando crítica com uma nostalgia cartunesca em um filme oportunamente político.

O Superman, antes de se tornar um herói patriota inserido na cultura macarthista, era um working-class hero. Nascido Kal-El, o rapaz é um imigrante, enviado por seus pais para os Estados Unidos antes de seu planeta natal, Krípton, ser destruído. Durante a Segunda Guerra Mundial, era comum ver o herói lutando contra nazistas e governantes corruptos. No entanto, com a chegada da Guerra Fria, durante o governo de Eisenhower, o Superman deixou de ser um combatente com interesses políticos para assumir a figura de um messiânico. Os maiores vilões, agora, não eram mais ditadores sádicos da vida real, mas, sim, cientistas malucos e criminosos genéricos. Nas décadas seguintes, o padrão não mudou. No entanto, Superman (2025) surge como um blockbuster oportunamente político: o herói encontra razão para existir na simples inspiração de ajudar as pessoas. 

No filme, assinado por James Gunn, Superman (David Corenswet), após interferir em uma guerra entre Boravia e Jarhanpur, descobre que sua figura, antes lida como símbolo de esperança, começa a ser vista de forma ambígua. Essa crise de confiança se agrava quando ele sofre sua primeira derrota diante de um misterioso adversário, Homem-Martelo. O vilão é ligado a Lex Luthor (Nicholas Hoult), um bilionário que fornece milhões de dólares em armamentos para financiar o exército da Boravia, um aliado dos Estados Unidos, na guerra contra Jarhanpur. O interesse do ricaço vem de um trato com o governante da Boravia por um pedaço de terra em Jarhanpur. Com isso, enquanto Luthor manipula a opinião pública contra Superman para impedir que o herói interfira novamente nos seus planos de guerra, Kal-El precisa lutar não somente para salvar sua reputação, mas, principalmente, os inocentes. 

Um dos êxitos de Superman é como esse filme remonta uma sensação de infância. Se grande parte das produções de filmes de super-heróis dos últimos anos parece ter apostado em um público mais velho, com filmes cinzentos e humor saturado, Superman vai por outro caminho. Olhe, por exemplo, para a presença do cachorro Krypto ou dos robôs empregados do herói. Esses elementos carregam uma sensação inegavelmente cartunesca e nostálgica. Em complemento, por vezes, o filme é capturado como se tentasse mimetizar os quadrinhos. Claro que o resultado no cinema é mais livre e fluido, mas não é difícil traçar as influências. Além disso, o próprio Superman parece carregar uma bondade cartunesca: ele não hesita em salvar um esquilo do ataque de um grande monstro, por exemplo. Claro que, por vezes, ele é bobo, fala pelos cotovelos e não pensa direito, mas seu coração é nobre. 

James Gunn, com exceção de filmes de comédia e horror, tem trabalhado basicamente com super-heróis. Ele não é o pior, mas está longe de ser um dos melhores. Como comentei, o filme aposta em uma certa liberdade visual: especialmente nos momentos de luta, a obra é filmada de maneira solta, gerando uma sensação eufórica. Em partes, pergunto-me se essas opções do diretor são uma negação da decupagem: isso funciona no clímax, mas, em outros momentos, não. Gunn, no entanto, é também o roteirista, onde ele não é tão exitoso. Embora acredite que existe uma simplificação narrativa que colabora com a linguagem das HQs, isso nem sempre é eficaz: as mudanças de opinião contra Kal-El são ridículas e não fica claro se são uma ridicularização dos norte-americanos, ao passo que os monólogos são engessados. Nisso, enquanto a direção é calibrada, o texto é meio deus ex machina.

Entretanto, antes de tudo, Superman é um filme oportunamente político. O conflito entre Boravia e Jarhanpur é um paralelo ao genocídio que Israel está cometendo na Palestina. No caso, até temos uma figura que ironiza Netanyahu: Ghurkos (Zlatko Burić) é o presidente sádico e sanguinário de Boravia, que é satisfatoriamente morto pela Mulher-Gavião (Isabela Merced). É verdade que a denúncia é velada, mas é bastante clara. Talvez o único deslize seja a falta de responsabilidade dos Estados Unidos na história. Claro que Luthor e seus homens de terno em prédios altos são uma representação da elite e seus interesses em guerras. Porém, eles parecem receber todo o papel de vilão, com o governo estadunidense sendo somente uma vítima da manipulação de Lex. Por outro lado, mais do que nunca, é preciso um herói que se comporte como tal. 

Luthor e Superman parecem opostos: ao passo que o primeiro acredita no poder da inteligência, o segundo representa erroneamente apenas a força física. Nesse sentido, Luthor é um dos vilões mais interessantes — seu poder é o planejamento calculado — e eficientes — você realmente sente vontade de socar o rosto dele. Há um momento do filme em que o vilão, não aceitando sua inevitável derrota, exclama que o cérebro vence a força física. Isso vai além desse instante, visto que Superman, no começo da obra, aparece derrotado pela primeira vez. No entanto, o que o ergue não é sua tenacidade ou habilidade de se recuperar com ajuda do sol, mas sua boa vontade de colocar os outros acima de si mesmo. Claro que a inteligência pode bater a força física, mas nenhum deles consegue superar a nobreza. E filmes de heróis deveriam ser, acima de tudo, sobre isso. 

Superman

Título Original: Superman

Diretor:

Lançamento: 2025

Duração: 129 mins.

Classificação: 14

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